O mais recente conjunto de poesias que foi contemplado com Menção Honrosa tem por título Imprecisões, em 2019, no Prémio Literário João da Silva Correia. E desse poemário retirei a primeira e o última poesia:
O
meu bisavô herdou uma courela
e
junto ao ribeiro plantou teixos e freixos
com
que fazia as socas os tamancos
e
sonhos para serenar a alma.
O
meu avô quando lhe legaram estas terras
acrescentou
vários castanheiros
e
com a sua madeira fez as portas
os
móveis da casa
e muitos filhos que lhe enchiam a alma.
O
meu pai quando recebeu esta leira
fez
uma casa nova e acrescentou nogueiras
substituiu
as árvores que não davam frutos
e
comprou mais terras contíguas
para
acalmar a alma.
E
enquanto eu espero ser este legado
vou
fazendo novos poemas
para
acrescentar à alma.
Disse ao Senhor que corpo estava exausto
depois que acendi todos estes versos
e os tomei como meus.
Proferi ainda que os batimentos
já não eram iguais aos que alcancei na última invernia
nem o timbre da voz com que lia era o mesmo.
Até a alma se alterou com o calor dos outros rios.
Acrescentei depois o doce vinho que lhes dei
já não produziu aquele estalido nobre
com que procurei marcar sempre a minha vida
O júri foi constituído pelo ex-ministro da
Cultura, escritor, poeta e ficcionista Luís Filipe Castro Mendes, pelo poeta
José Fanha e pelo editor António Baptista Lopes, o júri apreciou mais de 40
obras. O prémio ("Manhãs do Mundo" de Nuno Figueiredo), e as menções honrosas (“Uma casa de papel onde morar”, de Nuno Garcia
Lopes, “A qual fonte o sol regressa”, de Luís Aguiar, “Os contentores não cabem
em caravelas”, de Ana Maria Carvalho Pinheiro Vieira, “Eras o cervo que fugia
depois de haver-me ferido”, de Fernando Manuel da Cruz Cabrita) foram entregue em outubro deste ano, no âmbito
das comemorações da Emancipação Concelhia de S. João da Madeira.