22/01/2021

Imprecisões

O mais recente conjunto de poesias  que foi contemplado com Menção Honrosa tem por título Imprecisões, em 2019, no Prémio Literário João da Silva Correia. E desse poemário  retirei a primeira e o última poesia:

 I

O meu bisavô herdou uma courela

e junto ao ribeiro plantou teixos e freixos

com que fazia as socas os tamancos

e sonhos para serenar a alma.

 

O meu avô quando lhe legaram estas terras

acrescentou vários castanheiros

e com a sua madeira fez as portas

os móveis da casa

e muitos filhos que lhe enchiam a alma.


O meu pai quando recebeu esta leira                                                            

fez uma casa nova e acrescentou nogueiras

substituiu as árvores que não davam frutos

e comprou mais terras contíguas

para acalmar a alma.

 

E enquanto eu espero ser este legado

vou fazendo novos poemas

para acrescentar à alma.


 XXXVIII

Disse ao Senhor que corpo estava exausto                                                                                               

depois que acendi todos estes versos

e os tomei como meus.

 

Proferi ainda que os batimentos                                                                   

já não eram iguais aos que alcancei na última invernia                                                  

nem o timbre da voz com que lia era o mesmo.                                                                     

Até a alma se alterou com o calor dos outros rios.

 

Acrescentei depois o doce vinho que lhes dei

já não produziu aquele estalido nobre

com que procurei marcar sempre a minha vida

no enrodilhado desta terra.                                        

O júri foi constituído pelo ex-ministro da Cultura, escritor, poeta e ficcionista Luís Filipe Castro Mendes, pelo poeta José Fanha e pelo editor António Baptista Lopes, o júri apreciou mais de 40 obras. O prémio ("Manhãs do Mundo" de Nuno Figueiredo),  e as menções honrosas (“Uma casa de papel onde morar”, de Nuno Garcia Lopes, “A qual fonte o sol regressa”, de Luís Aguiar, “Os contentores não cabem em caravelas”, de Ana Maria Carvalho Pinheiro Vieira, “Eras o cervo que fugia depois de haver-me ferido”, de Fernando Manuel da Cruz Cabrita) foram entregue em outubro deste ano, no âmbito das comemorações da Emancipação Concelhia de S. João da Madeira.